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Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul, Brazil
Nós somos o 4º ano C, da Escola Eugênio Nelson Ritzel, Bairro Kephas, em Novo Hamburgo. Nossa professora chama-se Maria Ester. Nós somos uma turma esperta, inteligente, unida, amiga, leal, bonita, confiante. Nós estamos nos conhecendo.

Socializar experiências da sala de aula

O blog é uma excelente ferramenta, para dialogarmos com pessoas de diferentes lugares do mundo. Através deste, partilho as vivências de sala de aula. Este lugar é único. Como professora, cotidianamente enfrento novos desafios. São muitas experiências que entendo ser importante comungar com outras pessoas. Neste sentido, relato o dia a dia do 4º ano C, minha turma querida. Há dificuldades também, mas elas são pequenas diante das alegrias, das construções coletivas, das iniciativas da turma, das produções. Obrigada, por prestigiar-nos com sua visita. Fraterno abraço, professora Maria Ester Martins do Nascimento.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Projeto Jornal na Sala de Aula: os espaços étnicos nas páginas sociais


Justificativa
O presente trabalho faz parte do projeto "Jornal na Sala de Aula", que é uma iniciativa do Grupo Sinos, em parceria com as Prefeituras Municipais. Neste sentido, os estudantes têm acesso ao jornal na sala de aula, uma vez por semana, no caso, todas as segundas-feiras. Nesta perspectva, o jornal é uma ferramenta de trabalho que fomenta as discussões sobre diferentes temas abordados nas suas páginas. Neste trabalho, a turma do 4º ano C, percebeu que a página social, no caso de estudo página 31, contemplava majoritariamente um único grupo étnico. Esta percepção está suscitando várias discussões, no âmbito da sala de aula.
Apresentação

O Projeto Jornal na Sala de Aula tem sido uma ferramenta importante no acesso à leitura e a produção oral e escrita. Nesta perspectiva, o  4º ano C tem encontro com a leitura do Jornal NH todas as segundas-feiras. Estes encontros têm oportunizado momentos de leitura e interpretação de diferentes textos, contextualização das temáticas do jornal com a realidade, compreensão de que o jornal é um produto que vende ideias, percepção das diferentes linguagens do jornal, análise das diferentes editoriais, em especial à página social e suas implicações no cotidiano. O trabalho desenvolvido com a turma iniciou-se com a apropriação das diferentes editorias do jornal. Nesta proposta foi solicitada a leitura do jornal e o levantamento dos assuntos mais relevantes. Nesta incursão inicial a turma indicou as preferências de leitura. Destacaram-se palavras cruzadas, futebol, fases da lua, temperatura, tirinhas do Vavau, política e polícia.

Uma das propostas do trabalho com o jornal é a exposição oral. Neste sentido o gênero argumentar se faz presente em sala de aula, articulando-se com o Projeto Gêneros Textuais: Domínio Argumentar, realizado em parceria com a Secretaria Municipal de Educação e Desporto e a Unisinos. Ao anunciar sua escolha sobre a notícia veiculada no jornal, os estudantes e as estudantes tem que justificar a indicação. Esta atividade contribui, para a criticidade, para o respeito às ideias contrárias, para a organização textual e oral. É um exercício que permite que compartilhem das visões dos colegas. Nisto percebem as diferenças de opiniões e de percepções.

A divisão étnica nas páginas sociais

A análise das páginas do jornal NH deu lugar para outra dimensão, o enfoque de uma única página, no caso, a página social. A página ficou instituída pela turma, como página 31. Na análise inicial elencaram o que a página retratava. Expressaram que a página apresentava pessoas importantes, legais e bonitas. Como importante destacaram o prefeito da cidade e a família. As duas posições determinaram que todos os estudantes expusessem: quem é importante para você? Este questionamento trouxe várias posições, mas com destaque significativo para a família. Na análise da página 31 também elencaram o que faltava. Expressaram a falta de crianças e de pessoas negras e indígenas. Convidamos a editora da página para vir conversar com a turma. No bate papo com a jornalista os estudantes e as estudantes realizaram várias perguntas. Uma das questões levantadas foi a predominância de pessoas brancas. A esta pergunta respondeu: "eles não estão nos locais por onde circulo e algumas pessoas negras já foram publicadas na página". A fala da jornalista nos remete a análise de outros meios midiáticos. A percepção da turma não é um atributo apenas do Jornal NH. A invisibilidade da comunidade negra e indígena nos meios midiáticos está relacionada à reprodução das relações raciais na sociedade. Nisto Silvia Ramos diz:

“O racismo não se reproduz na mídia (nem, via de regra, em outros âmbitos da sociedade brasileira) através da afirmação aberta da inferioridade e da superioridade, através da marca da racialização, ou de mecanismos explícitos de segregação. O racismo tampouco se exerce por normas e regulamentos diferentes no tratamento de brancos e negros e no tratamento de problemas que afetam a população afrodescendente. As dinâmicas de exclusão, invisibilização e silenciamento são complexas, hibridas e sutis, ainda que sejam decididamente racistas”.

O que Ramos expressa explica a invisibilidade da etnia negra e indígena na mídia e na página de nosso estudo, a página 31, do Jornal NH. Este enfoque desenvolvi com a turma ao instigá-los a refletir sobre os diferentes meios midiáticos. Conversamos sobre as telenovelas, sobre as propagandas, sobre as revistas que dispomos na sala de aula e que na busca de uma mãe que direcionasse à maternidade não encontramos nenhuma que apresentasse pessoas de outras etnias. Cabe um questionamento: "ainda temos que ter revistas específicas, como Raça Brasil, para ser contemplada a etnia negra de forma afirmativa?" As imagens são importantes na constituição do sujeito. Este item caberia mais um estudo, para nossa reflexão. É importante ressaltar que a escola também silencia sobre este tema. Quando refiro-me a escola, estou abrangendo a todas e não a uma específica. A aplicação da Lei 10. 639/03 e 11.645/08 ainda está restrita a "alguns profissionais", o que inviabiliza um trabalho articulado com todos os segmentos da escola.

Corrobando com este assunto Iradj Roberto Eghari diz:

“A imprensa não inventa ou não deveria inventar. Na verdade, ela reflete a sociedade como se fosse um espelho. Se a sociedade for racista, aparecerá uma imagem racista”.
O pensamento de Eghari nos instiga à reflexão sobre a visibilidade da etnia negra e indígena nos diferentes meios midiáticos. Nesta perspectiva os estudantes e as estudantes estão sendo provocados e provocadas a estabelecer paralelos com outros meios midiáticos, com os espaços visuais da escola e da comunidade em que estão inseridos. Tem sido muito significativa estas discussões. Percebo mudanças nas produções artísticas, pois outros grupos étnicos começam a fazer parte da constituição dos desenhos produzidos. Paralelo a este trabalho desenvolvemos o projeto "Leitura e Escrita", com o estudo do escritor Júlio Emílio Braz e o artista plástico Carlos Alberto de Oliveira. O autor e o artista nos remetem também a reflexões relacionadas a temáticas sociais e étnico-raciais.
O trabalho em foco, articulado a outros desenvolvidos com a turma tem como proposta desencadear mudanças de comportamento, voltados para práticas de acolhimento, de respeito as diferenças e de criticidade. Neste sentido, Maria Luiza Belloni "afirma a educação para as mídias ou a mídia-educação, como preferem alguns, constitui-se, neste contexto de fim de século saturado de tecnologias de formação e comunicação, como uma condição imprescindível, para a realização de uma cidadania plena". E vai mais alem ao referir que a educação tem papel prepoderante na formação de um receptor crítico e na formação do comunicador.
O projeto "Jornal na Sala: os espaços étnicos nas páginas sociais" tem suscitado muitos questionamentos e diferentes percepções junto aos estudantes e às estudantes do 4º ano C. Há um leque de possibilidades que se descortinam e projetam outros olhares frente as mídias, que refletem no cotidiano. As discussões feitas não se esgotam por aqui. Temos muito ainda o que avançar. Neste sentido contatamos com duas Universidades de Curso de formação em Jornalismo da região, com o intuito de fomentar a discussão sobre a rede curricular e estamos na construção do encaminhamento de uma carta ao Conelho de Leitores do Jornal NH. Nestas considerações cabe mais uma referência de Belloni, que diz:
"Neste contexto de modernidade radical, de ambivalência entre o global e o local na construção do mundo vivido e refletido, de obsolescência rápida dos saberes e das técnicas, o papel da escola em todos os níveis é cada vez mais a formação do cidadão competente para o futuro. Como formar o cidadão frente à influência avassaladora da mídia e no quadro de uma cultura pós-moderna fragmentada e fragmentadora? Qual o papel da escola neste processo? Quem, mais uma vez, educará os educadores? E quem forma os comunicadores?"


Bibliografia:

Mídia e racismo, Organização, Silvia Ramos – Rio de Janeiro: Pallas, 2007
O que é mídia-educação, Belloni, Maria Luiza – 2ª edição – Campinas, SP: Autores 
Associados, 2005

Texto: Jornalista, Professora Especialista Maria Ester Martins do Nascimento

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